domingo, 8 de março de 2015

Era mais um dia que lhe recortava os contornos. O vento suspirava pela janela aberta, atravessando cada limite do seu corpo nu. Fumava todas as manhãs, como quem deixava fugir do peito a força para uma nova manhã. Suspirei - a beleza dela era única.
- Levanta-te. Preciso de ajuda no café da manhã.
Queria demonstrar firmeza; queria vestir calças novamente.
- Podias ser uma princesa e trazer o pequeno-almoço ao homem da tua vida. -, disse, enquanto me levantava com movimentos breves. Ela tossiu, para esconder o meio sorriso que se desenhava, selvagem, no seu rosto. Era tão fácil roubar-lhe um sorriso.
Senti o chão frio; arrepiei-me. E ela ali, de janela aberta, corpo despido e pés descalços. Não tinha vergonha de si, da sua palidez, dos seus recortes. Seduzia-me assim. Agarrei-a com ambos os braços pela cintura e senti-lhe o aroma fresco de um banho não consentido - como não notei, como acordou tão de mansinho? Beijei-lhe o início do pescoço, encaixando o meu rosto no seu ombro.
- Mais um dia para viver?
- Um dia de cada vez.
Rodou sobre si mesma; esfregou-se no meu corpo. Senti a sua pele fria, senti o seu sorriso quente. Sabia que o dia ia correr bem, apenas pelo brilho com que me olhou.

Sem comentários:

Enviar um comentário