domingo, 7 de junho de 2015

Pincelei mais uma mancha. A tinta sugava-me entre os poros, rompia-me todos os segredos para ser escrita naquelas paredes brancas. Era suor meu, eram lágrimas, uma espécie de arte mal amanhada. Quem queria ver; quem queria ter? Entre os olhos, tentava criar o que o mundo proibira, pintando com cores sem rumo, mais perdidas ainda do que eu. A sala era vazia e mesmo assim, aquele pintor de rua, devorou-me com a alma e perguntou-me o porquê.
«São camadas a mais.» - Gritava. «Despe-te, deixa que água vire cor nessas costas tão leves.»
Mas a sala era vazia; sublinho. As mãos derretiam-se naquela tela, naquele desenho que alguém pintara anteriormente a mim. O aroma exalava-se, ofuscava de calor quem o via. Quem me dera poder sussurrar ao mundo como tudo não era nada mais que azul.

sábado, 18 de abril de 2015

Não, não vais ser capaz de perceber a profundidade com que te vou olhar. Vou queimar o que tens ainda de mim, aí dentro - queimar de desejo, queimar de lembrança, queimar de pele e suor. Vais sentir o meu peso só com o olhar, sabes? Vestirei o melhor top, os jeans mais arrebatadores; vou de princesa e imagina só: vou-te convidar a ser príncipe, mesmo sem dando o braço a torcer. Vais ser incêndio, prepara-te. E quando me suspirares um último socorro, vou sorrir e abandonar mais um espaço. Arde.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

E vens, sorrateiro,
Vens nesse fado triste que rasga mais uma página.
Quão previsível, quão esse ódio compromete
Mais um sorriso, mais uma noite,
Mais um tudo convertido num nada.
Sejamos frutos destes dias
Em que
Sem jeito
Se vende o corpo ao desapego.
E as palavras já não corroem, suspiras,
Enquanto silêncios ironizam mais um livro de ti.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Névoa,
Acompanha-me a passos lentos
Enquanto respiro mais uma noite.
Névoa é tudo o que vejo em ti,
O que esqueço em ti ou assim penso, acredito.
Névoa que me preenche, me abafa,
Me cobre as dores e de dores me acorda
Nestes sonhos máguos.
Névoa é quanto escrevo de ti,
Sem lucidez, foco tremido,
Sangue nas mãos e palavras não ditas.
Respiro (mais névoa),
Fria e cortante;
Esfrego as mãos e dou mais um passo.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Que seja mais do que silêncio
Este espaço sem fim, nú,
Que me apague esta noite nos seus braços.
Embala-me, vem e toca-me,
Ensina-me assim, suplico.
Que seja mais do que silêncio.
Que seja branco o esquecimento,
Que seja água que preenche,
Serenidade. Até ao último folgo.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Se não me amas, então apaga-te. Deixa que o mar te envolva, longe da minha mente, longe do meu barco. Não me peças mais beijos, não te despeças sequer. Não quero as tuas cartas, as tuas desculpas ou lágrimas de amizade com cor; quero o branco, o silêncio. Por mais que doa, por mais que os meus braços se estiquem para te alcançar, suplico que caminhes para longe, que corras. Leva os teus amigos contigo, a tua casa, o teu jeito emaranhado para a cozinha e o teu nome. Carrega uma mala cheia e completa de ti; suplico. Apaga-te. Apaga-te para que possa, mesmo que com tristeza, tirar o gosto amargo que hoje sinto, imaginar que tudo foi um sonho. E que como em todos os sonhos, a cura chega ao mesmo tempo que a noite se vai.
Vem e enrola-te em mim, aconchego,
Nesta noite cega de ti e dos teus silêncios.
Sussurra-me o orvalho, a lua cheia,
As loucuras quando perdida, quando encontrada pela liberdade,
Os abraços e o aroma de pele.
Vem e faz-me bem,
Espelha-me, esbracejando,
Premiando-me.